Jogar PlayStation vs Redes Sociais — Será que a Cheap Dopamine é toda igual?
Duas horas no PS5 e sinto-me bem. Duas horas nas redes sociais e fico estranho, como se tivesse desperdiçado o tempo. O curioso é que, à primeira vista, ambas as coisas parecem o mesmo tipo de prazer rápido — aquilo a que chamam cheap dopamine. Mas há uma diferença invisível que muda tudo: o propósito por trás do estímulo.
Quando jogo, existe um processo. Escolho o jogo, avalio se vale a pena, espero que esteja em promoção, compro, jogo até platinar e apago. Parece simples, mas há uma estrutura que o cérebro entende como um ciclo completo. Existe começo, meio e fim. E dentro desse ciclo há planeamento, paciência, desafio e recompensa. Cada etapa liberta dopamina — sim — mas de uma forma que reforça o sentimento de progresso. É dopamina de construção.
Nas redes sociais, o processo é o oposto. Não há começo nem fim. Cada deslize de dedo é uma tentativa de encontrar algo que nos estimule, e o cérebro nunca sabe o que vem a seguir. Pode ser um vídeo engraçado, um drama, uma notícia, ou nada de especial. É o mesmo tipo de dopamina, mas aplicada num circuito sem fecho. Não há conquista nem encerramento. Por isso, quando desligamos o ecrã, fica apenas o vazio — uma sensação parecida com comer fast food: sabor bom no momento, peso depois.
É por isso que o prazer do jogo não me faz sentir mal. Porque existe intenção. A diferença entre a dopamina que constrói e a dopamina que corrói está exatamente aí: na intenção e no encerramento do ciclo. Quando o cérebro entende que algo foi concluído, ele relaxa. Sente-se satisfeito. Quando o estímulo é infinito, ele continua a procurar, como se algo estivesse sempre em falta.
A dopamina, no fundo, é neutra. É só o mensageiro. O problema não é a dopamina, é a ausência de propósito. Jogar consola com um objetivo claro ativa o mesmo circuito de recompensa que estudar, aprender ou criar algo. O corpo não distingue se a missão é derrotar o último boss ou escrever um texto — o que importa é o sentido de progresso. O que realmente destrói o equilíbrio não é o prazer, é a falta de sentido por trás dele.
É curioso pensar que o jogo, que muitos ainda veem como perda de tempo, pode ser uma das atividades mais alinhadas com a forma natural do cérebro trabalhar: foco, desafio, recompensa, fecho. Enquanto isso, as redes sociais, que parecem inofensivas e “sociais”, roubam-nos o foco e a presença. E a diferença de energia que sentimos depois de cada uma dessas experiências é a prova disso.
O ponto não é eliminar a dopamina fácil — é usá-la com intenção. Saber onde ela constrói e onde só dispersa. O prazer também pode ser disciplina, desde que tenha propósito. O jogo ensina isso de forma prática: ou superas o desafio, ou ficas preso no mesmo nível.
Talvez o problema nunca tenha sido o prazer, mas a ausência de consciência no prazer. Talvez a verdadeira maturidade dopaminérgica seja aprender a encontrar equilíbrio entre o que te faz crescer e o que apenas te distrai.
No fundo, não é o jogo nem as redes sociais que determinam o tipo de dopamina, mas a forma como nos relacionamos com eles. Para alguns, o jogo é fuga; para outros, é foco. Para alguns, o scroll é distração; para outros, é inspiração. O equilíbrio está em perceber o que cada coisa te faz sentir depois — e ajustar o uso conforme o efeito, não conforme a moda.
E se formos honestos, no fundo todos sabemos o que nos deixa melhores depois.
Nota:
Este artigo reflete apenas a minha experiência pessoal. Para mais informações, consulte o [Aviso Legal].

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