Ensinar é Criar Autonomia: A Parábola dos Dois Poços
Há momentos em que ajudar parece sinónimo de fazer pelas outras pessoas, mas, na verdade, a verdadeira ajuda é aquela que transforma. A diferença entre resolver um problema e ensinar alguém a resolvê-lo define não só o impacto imediato, mas tudo o que essa pessoa será capaz de construir no futuro. A maneira mais simples de demonstrar isto é através de uma parábola antiga, adaptada para a vida moderna.
Imagina dois candidatos à liderança de um reino. Antes de escolher o sucessor, o rei decide pô-los à prova com a mesma missão: salvar duas aldeias que estavam a sofrer com uma seca grave. Em ambas faltava água; em ambas a população estava desesperada. Cada candidato tinha total liberdade para agir como quisesse.
O primeiro candidato pegou nas ferramentas e cavou um poço profundo até encontrar água. Ele tinha resolvido o problema. A aldeia tinha água, e a missão estava concluída.
O segundo candidato fez algo diferente. Em vez de cavar ele próprio, reuniu os aldeões, ensinou-lhes como escolher o local certo, como ouvir o solo, como usar as ferramentas, e como manter o poço para que nunca secasse. Juntos, construíram não só um poço, mas o conhecimento para criar muitos mais. No final, aquela aldeia não ganhou apenas água; ganhou autonomia.
Quando os dois regressaram, o rei percebeu a diferença essencial: o primeiro candidato resolveu um problema; o segundo eliminou a dependência. O primeiro criou gratidão; o segundo criou capacidade. E isso, no longo prazo, é o que transforma reinos — e vidas.
Esta parábola encaixa diretamente no nosso dia a dia. Muitas vezes, quando ajudamos alguém, a tentação é fazer por eles. É mais rápido, mais eficiente no imediato e parece até mais bondoso. Mas, de forma silenciosa, criamos dependência. Se ajudamos sempre da mesma forma, tornamo-nos o poço — e não o conhecimento para criar um. E, com o tempo, quem depende de nós fica mais frágil e menos capaz.
Ensinar dá mais trabalho. Ensinar exige paciência. Ensinar obriga-nos a parar, explicar, demonstrar, corrigir, repetir. Ensinar não dá resultados imediatos — mas cria resultados que se multiplicam com o tempo. No fundo, ensinar é um investimento composto aplicado às pessoas.
No nosso quotidiano, devemos escolher ser como o segundo candidato. Quer seja num trabalho, numa relação, numa equipa ou até conosco próprios, a mentalidade correta não é “como resolvo isto agora?”, mas sim “como garanto que isto deixa de ser um problema?”. A primeira resposta resolve o presente; a segunda resolve o futuro inteiro.
No fim, o verdadeiro poder está em ajudar alguém a não precisar mais de ajuda. E essa é a essência silenciosa da evolução humana: transmitir conhecimento que liberta.
Nota:
Este artigo reflete apenas a minha experiência pessoal. Para mais informações, consulte o [Aviso Legal].

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